Daniel Fernandes – enviado especial a Liverpool (Inglaterra)
Hey, amigo……amigo? AMIGO!!!!!
Sim, você percebe que chegou em Liverpool, e deixou Londres, quando é abordado por dois simpáticos cidadãos que aparentemente bêbados mesmo às dez da manhã querem sabe sei lá o que de você. Ignoro a dupla e sigo meu caminho até o porto da cidade.
Caminho por um calçadão que lembra o centro de São Paulo. Lembra, na verdade, como deveria ser o centro de São Paulo. Lojas de departamento, lojas de grife, restaurantes, cafés e pessoas aproveitando o sábado para passear e comprar.
Quase chegando ao porto me deparo com algumas senhoras (sim, senhoras!) apinhadas daqueles badulaques que aqui no Brasil distribuem em festas de casamento – colares de plástico, tiaras que imitam antenas de insetos e óculos de plástico com molas (aff!). Pelo andar cambaleante, desconfio que as ‘tiazinhas’ estão voltando de alguma festa. E das boas.
Liverpool me pareceu um pouco isso. Uma festa. E uma festa regada aos Beatles. O que é sempre bom. Sem vergonha nenhuma, me visto de turista ‘mega-master-plus’. E sigo para a primeira parada. Vou fazer um passeio pelos pontos turísticos da cidade que remetem ao quarteto de músicos mais famoso do mundo. E o tour vai ser em um ônibus idêntico ao usado nas filmagens de Magical Mistery Tour.
O nosso guia, aliás, é um capítulo à parte. Sabe o Rooney, atacante do Manchester United? O cara é a cópia. Aborda o grupo de turistas que espera pelo embarque com um copo gigantesco de café e um cigarro (filtro amarelo!) queimando no canto da boca. Ao seu lado, um menino de uns nove anos. Seu filho. E fã incondicional dos Beatles. Como todo mundo que mora por lá.
E lá vamos nós. A casa em que Ringo viveu na infância, o local de nascimento de George Harrison, Penny Lane, a igreja de St. Peter’s (onde Paul e John se encontraram pela primeira vez) e Strawberry Field. E aí a coisa começa a engrossar. É verão, mas está frio em Liverpool (que dúvida !!!). E você se emociona de verdade quando desce do ônibus e sente o clima. Você está na Casa Branca dos fãs de Beatles. E fica difícil segurar as pontas.
Voltamos para o ônibus e o tour termina….termina…..

Réplica de imagem dos Beatles em ação no Star Club, de Hamburgo, na Alemanha (FOTO: DANIEL FERNANDES)
Antes é preciso dizer algo sobre o humor peculiar daqueles que habitam Liverpool, especialmente com os norte-americanos. Ou você acha normal o nosso guia, inglês até a raiz dos seus dentes amarelados pela nicotina, implicar com seus clientes americanos o tempo todo porque eles chamam o football de football e o futebol “de verdade” de soccer?
Bem, o tour termina no Cavern Club e custa quase 16 libras. Ou mais de R$ 50. Se você vai prá lá, pode reservar suas entradas pela internet.
Mas o legal mesmo de visitar Liverpool – e ter contato com seus peculiares moradores – é o museu dos Beatles. Ele se chama The Beatles Story. E realmente vale cada centavo que você vai pagar. Aliás, você atualmente escolhe dois tipos de passeios dentro do museu.
The Ultimate Experience é o tour básico e custa quase 20 libras por cabeça. Se quiser incluir a exposição especial mostrando o relacionamento dos quatro Fabs com Elvis Presley, vai precisar pagar um pouquinho mais.
O mérito do tour é que você realmente consegue mergulhar no universo dos Beatles. Logo na entrada, há fotos que mostram Liverpool em ruínas, resultado dos bombardeios alemães durante a 2ª Guerra Mundial. Foi nesse ambiente que os Beatles surgiram. E é com essas fotos impressionantes que você começa o seu passeio. A coisa esquenta conforme você anda. Quando eles chegam em Hamburgo, há uma reprodução fiel da fachada de um dos clubes em que eles tocaram por tantas e tantas noites.
E assim a coisa vai. Você senta nas poltronas do avião que levou os quatro rapazes para os Estados Unidos, depara-se com uma reprodução em tamanho natural da capa mais emblemática de todos os tempos (precisa falar qual foi?) e até dá um passeio pelo Submarino Amarelo. Tudo com áudio em português. Veja bem, português do Brasil e não português de Portugal. Sinal dos tempos…. e das crises.
Mas o melhor está no fim. E não é a filial do Starbucks que só toca musica dos Beatles ou a loja que tem 5 trilhões de produtos da banda à venda. É o piano branco do John que está por ali, distante poucos metros de você. A sala também é toda pintada de branco e nas paredes foram escritas (pintadas) as frases da canção Imagine. Dessa música e de outra dos Beatles que é de chorar: “and in the end the love you take is equal to the love you make…”